"Certa manhã, alguém noticiou
que seríamos ouvidos pelos delegados federais sobre os fatos constantes do
inquérito policial, que servia de suporte à denúncia.
Como tínhamos entrevistas
diárias com os advogados, estes tomaram também conhecimento de que todos os
encarcerados das celas um a sete começariam a ser ouvidos.
A recomendação da defesa era
para que ninguém falasse nada a respeito da operação furacão, exercitando o
direito de “ficar calado”.
Não entendi o sentido dessa
recomendação, mas como eu era um encarcerado e não um juiz tratei de segui-la à
risca.
Confesso que essa
recomendação não me agradou muito, pois eu estava louco para falar, fosse para quem
fosse, sobre o que havia acontecido comigo a partir da minha prisão, porque a
respeito do resto eu nem poderia falar, pois não sabia realmente de nada.
A única coisa que eu
supunha, e nisso estava certo era que eu tinha sido preso por um “delito de
opinião” ou “delito de jurisprudência”, por conta das decisões que havia proferido
como vice-presidente do Tribunal, mas com as quais não concordavam alguns policiais
federais e membros do Ministério Público Federal.
Eu queria muito falar, mas
como “em boca fechada não entra mosquito”,
preferi naquelas circunstâncias seguir a recomendação do advogado, e exercitar
o meu direito de ficar calado.
Quando chegou a minha vez de
ser interrogado, fui conduzido a um andar superior da carceragem, onde mais de
um delegado federal se ocupava do ofício de ouvir os custodiados, adentrando
uma sala preparada para essa finalidade, acompanhado do meu advogado."
(Continua na próxima semana).
Trecho do livro OPERAÇÃO HURRICANE: UM JUIZ NO OLHO DO FURACÃO (Geração Editorial), encontrável em www.saraiva.com.br e em www.bondfaro.com.br
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